quinta-feira, 24 de novembro de 2011

“Lata” d’água na cabeça

Dona Leonice ajuda a instalar uma bica

 Dona Leonice Rocha, 50 anos, já viveu diversas experiências, inclusive a de carregar, na cabeça, um balde cheio de água. Isso começou a acontecer quando ela ainda era criança e se perpetuou por muitos anos até que em 2003 ela recebeu uma cisterna e desde então acompanha os processos de construção de cisternas, seja como integrante da comissão municipal de águas de Juazeiro, seja como animadora de comunidade.

No projeto da SAET, dona Leonice auxilia a execução desde a mobilização até o emplacamento das cisternas. Durante uma dessas atividades ela fez uma brincadeira que nos proporciona uma boa oportunidade de avaliar o acesso das famílias sertanejas a água.

“Já carreguei muita lata d’água na cabeça”, relata sorrindo dona Leonice. Acima de sua cabeça já não está mais o balde (tão presente em sua infância), pesado, cheio daquela água de qualidade duvidosa.  A “lata”, que quase não pesa sobre a cabeça não tem água, mesmo assim representa a esperança de uma família. A “lata” na verdade é uma bica de zinco que estava sendo instala em um telhado. É essa bica que levará a água - que cair no telhado – diretamente para a cisterna.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dilma tratora as cisternas?


 Roberto Malvezzi (Gogó)
 
A sociedade civil articulada trabalha há anos a construção de um milhão de cisternas para a população difusa do semiárido. O P1MC já construiu cerca de 350 mil dessas cisternas. 

O resultado desse trabalho de rendeira, ponto a ponto, cisterna a cisterna, junto com outras políticas públicas como a elevação do salário mínimo, Luz para Todos e Bolsa Família, fizeram com que desaparecesse do cenário nordestino as grandes migrações, os altíssimos índices de mortalidade infantil, as famigeradas Frentes de Emergência, os macabros saques de famintos e sedentos. Parece pouco, mas é uma conquista histórica.

Seriam impossíveis essas conquistas sem que uma legião de pessoas, articuladas em mais de 700 entidades, não dedicassem suas vidas para vencer essas tragédias. Com uma pedagogia paciente, envolvendo as comunidades beneficiadas, fazendo a reflexão sobre a convivência com o semiárido, replicando tecnologias que passam a ser controladas pelas comunidades, a realidade mudou.

Dilma, quando entrou, disse que iria acelerar esse processo. Sempre ficou a dúvida de qual seria o método para essa aceleração. Anunciou a construção de 800 mil cisternas, como universalização do Água para Todos. Até aí estava tudo ótimo.

Mas, repentinamente a presidente anuncia que vai acelerar a implantação das cisternas através de um reservatório de plástico, comprados de uma empresa. A presidenta nem imagina o estrago que está fazendo. Se soubesse, não é possível que o fizesse.

Primeiro, as cisternas de plástico murcham com o sol, envelhecem rápido, o que as inviabiliza do ponto de vista técnico. Mas esse não é o problema fundamental. Nenhuma empresa tem interesse em fazer o trabalho pedagógico junto às comunidades. Para guardar a água da chuva é necessário um trabalho de reflexão sobre o semiárido, como ele é, suas leis naturais de chuva e secas, sua biodiversidade específica, assim por diante.

O Estado brasileiro, desde o nível federal até ao municipal, nunca soube, não sabe, não há sinal que um dia saberá como fazer essa educação. Tanto é que a fome e a sede reinaram por séculos até que a sociedade civil inaugurasse essa nova metodologia, estabelecendo uma fenda histórica antes o que foi feito antes e o que está sendo feito agora. Dilma vai enterrar a metodologia com suas cisternas de plástico.

Se existe demora, o correto seria fortalecer a ASA. Afinal, só o aditivo da Transposição, que está derretendo ao sol, é de 1,8 bilhões de reais, isto é, dinheiro suficiente para fazer  um milhão de cisternas.

Francamente, quem não ajuda que não atrapalhe. Se os governos não sabem fazer, que continuem apoiando aqueles que sabem. Já é uma contribuição excelente. Enterrar essas iniciativas, muito mais pedagógicas que obreiristas,  é ressuscitar a velha indústria da seca, tão ao gosto dos coronéis de ontem e de sempre.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

ASA comemora liberação de recurso para compra de sementes nativas



As organizações da sociedade civil que já trabalham com as sementes nativas e que possuam a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (DAP Jurídica) têm até o dia 24 deste mês para apresentar uma proposta e concorrer ao edital lançado semana passada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 

Estão sendo disponibilizados R$ 10 milhões para a compra, através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), das sementes, também chamadas de crioulas, que em seguida serão distribuídas a cerca de 30 mil famílias agricultoras.

Em Alagoas, estado em que há uma mobilização forte em torno desta temática, muitas entidades já estão se organizando para elaborar suas propostas. O coordenador da Articulação no Semi-Árido (ASA) pelo estado de Alagoas, Mardônio Alves, acredita que essa é uma conquista da sociedade civil que vem lutando para a valorização dessas sementes tradicionais, cultivadas há gerações por agricultores e agricultoras do Semiárido.

Mariana Mazza - Asacom