sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Artigo: Eu acredito em ONG, por Paulo Betti

 
 
Por Paulo Betti
 
Amigos, escrevo esse texto com o respaldo de quem preside uma ONG (Organização Não Governamental) há vinte anos. Essa instituição foi criada em parceria com um grupo de amigos - atores e produtores – e se chama Casa da Gávea.  Fui seu primeiro presidente, mas logo fui substituído pelo ator José Wilker, pois tive que usufruir de uma bolsa de estudos fora do país. Ao retornar ao Brasil assumi novamente o posto de presidente. No início, éramos dez sócios fundadores, mas, atualmente, somos quatro. O contexto se assemelha ao romance da Sra. Maria José Duprê, que virou novela com o inesquecível Gianfrancesco Guarnieri: “Éramos Seis”. O “bom” é que, desses dez sócios, nenhum foi para o “andar de cima”, como diz Miguel Fallabella...
 
A primeira ONG que eu conheci foi a Associação Beneficente Espírita Bom Jesus do Bonfim da Água Vermelha, fundada pelo grande João de Camargo, em 1921. Acredito que nem ele sabia o que era uma ONG, mas acabara de criar uma, sem dúvida. A Associação tinha até um livrinho como estatuto.
 
Há vinte anos não era moda falar mal de ONGs. Quem poderia ter alguma coisa contra o Banco de Olhos? Ou a AMAS? Que cuida dos autistas em Sorocaba/SP. Hoje, infelizmente, existe associação dessa atividade, idealizada, muitas vezes, por gente de bem, com boas intenções e, de maneira voluntária, ao que existe de pior. E, por isso, meu desejo de defender a ONG que presido. Mesmo ela não estando sob nenhum ataque direto, acho necessário uma defesa da Casa da Gávea e também das ONGs em geral, tão vilipendiadas nesse momento.
 
Não foi à toa que éramos dez e hoje somos quatro. É difícil conviver, fazer junto, fazer para os outros, para o coletivo, para a cidade, para a comunidade. É claro que muitas vezes nos abatemos com dúvidas hamletianas: para que serve a Casa? Alguns amigos a chamam de “causa”. Para que esse trabalho todo para mantê-la funcionando? Por que não ficar só com um escritório para tocar nossas produções? Por que fazer funcionar uma sala experimental? Para que uma rádio e uma TVWeb? Cursos, leituras de textos, shows musicais? Temos muitas outras questões, as mais corriqueiras e as mais metafísicas. Não vou aborrecê-los enumerando-as. E, mesmo assim, não nos deixamos abater pelo cinismo e pela indiferença.
 
A Casa da Gávea é uma associação cultural sem fins lucrativos que tem como objetivo difundir o estudo e a reflexão sobre o teatro, o cinema, a televisão, o rádio, o livro, a música e tantas outras questões de nossa cultura. É mais ou menos assim que está escrito no nosso Estatuto, registrado em cartório. E é o que temos tentado fazer com o maior empenho nesses anos todos. O mais difícil é enfrentar a burocracia para continuar existindo nesse clima de denúncias e desconfiança.
 
Outro dia, com um projeto aprovado, tivemos que provar que existíamos. Está certo, foram encontradas muitas ONGs fantasmas. Mas nossa porta está aberta todos os dias no Baixo Gávea. Mas isso não bastava. Tivemos que conseguir um ofício do Ministério da Cultura provando que existíamos. Não é fácil obter recursos para manter as portas abertas, pagar as contas e continuar “tocando o barco”. Mas, estamos ali naquela esquina do Baixo Gávea, com a nossa parte da fachada restaurada, a de cima.
 
Procuramos manter a dignidade de um centro cultural. Um espaço democrático. Falei da Casa da Gávea para chegar ao que quero contar nessas poucas linhas: outro dia fui apresentar o Prêmio da Fundação Banco do Brasil, que reconhece projetos de acordo com os critérios das Tecnologias Sociais. Fui contratado para ser o mestre de cerimônias da premiação, em Brasília. Faço esse tipo de trabalho, de vez em quando. Cheguei bem antes da hora da entrega dos prêmios e pude participar de um almoço com os finalistas. Reforcei minha crença na importância do papel que as ONGs desempenham no Brasil de hoje. Olhem alguns dos projetos finalistas desse Prêmio e compreenderão porque defendo as ONGs:
 
Banco Comunitário Muiraquitã – Lixo transformado em inclusão digital. Inclusão digital da Amazônia – ÍNDIA – Santarém/ PA.
Tarumã Vida: do Carvão às Tecnologias Sociais – Associação Agrícola do Ramal do Pau Rosa –ASSAGRIR – Manaus/ AM.
Oficinas de Artesanato e Construção de Identidade - Fundação Parque Tecnológico Itaipu - Foz do Iguaçu/ PR.
Ecos do Bem: Educação Ambiental no Território do Bem – Associação Ateliê de Idéias – Vitória/ES.
Fazendo Minha Historia – Associação Fazendo História - São Paulo/ SP.
Jovem Empreendedor: Idéias Renascendo em Negócios – Acreditar - Glória do Goitá/ PE.
 
Vou parar por aqui, são muitas. Mas gostaria que você, leitor, aproveitasse para refletir sobre seu “preconceito” contra as ONGs, caso tenha sido influenciado pela propaganda maciça contra essas instituições, veiculada, diariamente, nos meios de comunicação. Visite o site http://www.fundacaobancodobrasil.org.br/ e veja os projetos vencedores. Use, divulgue e aproveite! O Brasil tem solução, crie você também uma ONG, participe! Acredite!
 

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